O facto de ter vivido duas grandes experiências, uma atrás da outra, deixou-me sem capacidade para perceber até que ponto teria gostado ou não, aprendido ou não, mas sobretudo, valorizado o tempo que passei na SIC, entre Maio e Agosto deste ano. Agora que termino o meu relatório de estágio, e que voltei a reviver os tempos que ali passei, não podia deixar de partilhar com vocês o que significou...
Acho que assim em jeito de conclusão...isto diz muito!
Espero conseguir transmitir o prazer que me deu...
Mas espero, sobretudo, continuar a querer olhar em frente, sempre em frente e acreditar naquilo que me preenche, que me realiza, que me faz continuar a querer/ser jornalista. Como alguém me disse um dia...
E ainda que a desilusão, mais cedo ou mais tarde, acabe por chegar... espero nunca me deixar vencer por ela... Aqui fica, então, A CONCLUSÃO!
“ O jornalista pertence a uma espécie de casta de párias, que é sempre estimada pela ‘sociedade’ em termos de seu representante eticamente mais baixo. Daí as estranhas noções sobre o jornalista e seu trabalho. Nem todos compreendem que a realização jornalística exige pelo menos tanto ‘gênio’ quanto a realização erudita, especialmente devido à necessidade de produzir imediatamente, e de ‘encomenda’, devido à necessidade de ser eficiente, na verdade, em condições de produção totalmente diferentes” (Weber, apudPereira, 2004: 1).
A televisão marcou-nos, definitivamente, pelas histórias que nos contou, pela companhia que muitas vezes nos fez, pelo seu efeito aglutinador e massificante. E a mentalidade do século XX foi inquestionavelmente marcada pela omnipresença televisiva, tanto que a televisão se tornou o meio de comunicação de massas por excelência.
Em Portugal, tal como em tantos outros países, esta realidade não é diferente, pois “apesar dos portugueses não verem mais televisão do que os outros povos, a televisão é a sua principal fonte de informação e adquiriu uma importância fundamental para a vida política e para a difusão de factos e ideias normativas do comportamento individual e social” (Andringa).
Esta realidade aumenta a responsabilidade dos jornalistas durante a realização da profissão. Se a televisão é a principal ligação dos cidadãos com a realidade que os rodeia, então há uma obrigatoriedade de procurar sempre a verdade e de contribuir para a formação cívica da sociedade. No entanto, as mudanças que surgiram com a abertura do mercado televisivo à iniciativa privada têm sido, muitas vezes, alvo de críticas, ao privilegiar o sensacionalismo. “Nestes 13 anos [altura do aparecimento da SIC e TVI], tudo mudou. E mudou de forma tão veloz, vertiginosa, agressiva que a montanha russa gerada nos sacudiu em não poucas excitações e outros tantos vómitos” (Ramos, 2005).
Ainda assim, estagiar na SIC é, realmente, um privilégio, independentemente de todas as críticas que lhe possam ser feitas, no que diz respeito a políticas informativas. Sobretudo, se tivermos em conta o papel importante que desempenhou nas mudanças tecnológicas, programacionais e informativas em todo o panorama televisivo português desde o seu aparecimento em 1992. A política de busca da verdade, de preocupação com a apresentação de uma informação clara, de exigência de um elevado nível de profissionalismo tornam-na uma grande escola na percepção da realidade e parte prática do que é fazer jornalismo televisivo.
O valor que a SIC representa no quotidiano jornalístico português é, na verdade, inquestionável. Ainda assim, como em muitas outras empresas, há aspectos que não correm da melhor forma durante o estágio. O elevado número de licenciados que termina cursos na área da comunicação e do jornalismo todos os anos tem vindo a criar fragilidades dentro da classe jornalística, e mais do que isso, a dificultar as perspectivas de emprego dentro desta área.
Talvez por esta razão, e ainda mais numa empresa como a SIC, a maior parte dos jornalistas que aqui trabalha não se preocupa em fazer um acompanhamento aos estagiários que trabalham consigo. O facto de estarem, constantemente, a entrar estagiários na redacção, de durante muito tempo terem investido em relações interpessoais que acabaram por ir por água abaixo pois quase nenhum dos estagiários acaba por ser contratado, faz com que estejam cansados e que, na maior parte das vezes, se limitem a ser indiferentes aos estagiários.
E esta situação acaba por criar um círculo vicioso. Chegamos ao estágio, acabados de sair da faculdade, sem saber minimamente o que é o mundo do jornalismo (seja ele em televisão, rádio ou imprensa) e deparamo-nos com profissionais desanimados e insatisfeitos, que além do mais parecem não ter tempo, nem paciência, para nos ensinar alguma coisa. Caímos no meio de uma redacção, onde se espera que demos o nosso melhor e que evoluamos cada vez mais, onde os níveis de exigência são muito elevados e temos de nos “saber virar” sozinhos.
Se até certo ponto é muito importante que sejamos “lançados aos leões” logo desde o início, porque é uma forma de aprendermos e ganharmos experiência mais rapidamente, por outro lado, convêm que exista um acompanhamento daquilo que fazemos, para que nos sintamos incentivados e ganhemos gosto por esta profissão. “O ‘bichinho’ do jornalismo é altamente louvável, [mas] se acompanhado por profissionais qualificados e com provas dadas” (Correia, 2001:2), porque sem este acompanhamento, “os jornalistas da jovem geração perderiam algo da essência da missão que lhes competia (...)” (Correia, 2001:2).
Apesar de ter conhecido esta realidade na SIC, tive, também, oportunidade de conhecer excelentes profissionais que tudo fizeram para que me sentisse integrada e para que tivesse uma formação bastante completa. E embora todo o descontentamento e críticas em relação à “política de estágios” dentro da SIC, ao mesmo tempo, este grupo de profissionais com quem tive o prazer de me cruzar e o privilégio de trabalhar fazem com que sinta que o balanço da minha passagem pela SIC seja mais que positivo.
Com este estágio ganhei mais certezas quanto ao que quero fazer no futuro e, mais do que isso, serviu para perceber o prazer que pode ser trabalhar em televisão. Acredito que dei o meu melhor durante o estágio, que cresci emocionalmente e a nível profissional, que evoluí como jornalista. Sei que com tudo o que realizei contribuí positivamente para a qualidade informativa da estação e não podia deixar de me sentir orgulhosa com a confiança que vários profissionais da SIC depositaram em mim.
Pude, ainda, perceber que, na realidade, “esta profissão exige de quem a escolhe um envolvimento e uma dedicação particulares e pelo fato de significar bem mais do que uma atividade ou emprego na vida de seus profissionais, ela gera um estilo de vida e uma visão do mundo específicos (...)” (Jornalismo e Jornalistas, 2004: 19).
Assim, e apesar das críticas que possam ser feitas à classe jornalística, pois o jornalista é muitas vezes encarado como “uma espécie de casta de párias, que é sempre estimada pela ‘sociedade’ em termos de seu representante eticamente mais baixo” (Weber, apudPereira, 2004: 1), com tudo o que aprendi, quer durante o curso quer durante o estágio na SIC, só me posso sentir realizada por ter escolhido esta profissão.